Cara a cara

10 julho 2014



Cada vez me vejo com menos paciência para lidar com determinados assuntos, dizem que é da idade, talvez tenham razão. Mas não faço questão que o tempo que passa por mim seja em vão, por isso vou-me adaptando e aprendendo a viver com as mudanças, umas boas, outras nem por isso, que o tempo me tem trazido. 
Não me assusta em demasia envelhecer, desde que possa continuar a fazer o que me dá mais prazer...

Se em adolescente nunca desejei ser mais velha, em adulta nunca me ouvi suspirar por quando era nova. Não tento disfarçar a idade, pelo menos para já. Aos 43 anos, posso dizer que nunca pintei o cabelo e não sei se algum dia o irei pintar, apesar de já ter muitas brancas há muito tempo. Não uso bases ou cremes, embora as olheiras  me persigam desde criança, não consigo ter disciplina suficiente para me obrigar a camuflar-me ou simplesmente hidratar-me com o que quer que seja. Uso o mesmo baton vermelho dos 20 anos e não é rotina. Sinto a pressão?, claro que sinto, e não só daquela que nos chega de fora, da tv, da publicidade, da sociedade em geral, mas dos que me são próximos, ouço muitas vezes, não achas que já está na hora de disfarçares as brancas... podias arranjar-te um bocadinho mais... Se adianta? Não. Mas incomoda. 

Pelo contrário, quanto mais ouço dizerem que podia ter mais cuidado comigo, mais me apetece relaxar (não é desleixar) e cada vez mais me convenço que é assim que me sinto bem, quando sou eu própria e não o que esperam que eu seja, senão o que seria eu, um catálogo que funcionaria segundo a opinião de cada um? Estes assuntos são tão importantes consoante a importância que se lhes dá e se estou a falar disto hoje é porque nestes últimos anos muita coisa mudou na minha vida, devido à maturidade ou falta dela, às diferentes maneiras de encarar a vida e as alterações que a idade nos traz. De repente vi-me confrontada com questões para as quais não estava sequer alertada e pensava que quem estava comigo, estava preparado para envelhecer ao mesmo tempo.

É um lugar comum, dizer-se que estamos melhor connosco agora do que há uns anos, mas não é comum a todos. Gosto mais de mim agora, por fora e por dentro, outro lugar comum, mas é verdade que sou mais feliz agora porque me aceito melhor. Claro que tenho dias... mas antes, ao contrário de agora, todos os dias eram assim.
Entretanto posso mudar de ideias e deixar de ser tão radical em determinados assuntos, como agora sou, mas se isso acontecer é porque cresci, noutro sentido, mas terei crescido e envelhecido.

8 comentários :

  1. :) Não há muito a comentar, a não ser que a Alexandra tem a cabeça, com as brancas e tudo mais, no lugar certo. Eu entendo o "cuidar-se" como algo além do vestir-se, pentear-se como esperam de nós. Se pinto o cabelo ou visto isso ou aquilo é porque quero, não porque é o padrão.
    Parabéns!
    Um abraço,

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    1. Bem isso de ter a cabeça no lugar certo... nem sempre! : )

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  2. Alexandra não te conheço pessoalmente mas partilho alguns sentimentos contigo. Quase a fazer 48, adoro os meus jeans slim e as minhas tshirts "coladinhas"... reparo que outras se arranjam "de acordo com a idade", mas se tenho corpo para ser teenager quando quero e me apetece, porque não? Não vivo modas, taras de época, mas pinto o cabelo com o castanho mais próximo do meu tom, porque não gosto dos brancos. Na maioria das vezes e quando digo a minha idade, as pessoas julgam que é mentira, que tenho menos 10 dos que digo... confesso que não gosto de cabeleireiros e que só corto o cabelo de ano a ano e é as vezes... não uso cremes, apenas protector solar na praia (quando me lembro de por). Sou assim um misto de miuda, mulher, louca, revolucionaria, traquinas. Um dia destes mostro um video de saltos altos... nem isso sei usar! Não importa mesmo nada, temos de gostar de nós próprias primeiro e o "rótulo" pouco interessa! Beijocas doces***********

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  3. Ay, es tan complicado hablar de belleza...Yo pienso que la belleza es algo muy interno que logra salir generando emoción en quien la percibe, que a su vez debe mantener una actitud de búsqueda y de descubrimiento.
    Eso es lo que yo encuentro en este espacio siempre y por eso te doy las gracias, Alexandra. Da igual el color del cabello o la talla del sujetador, la auténtica belleza se mide por otros parámetros.
    Bella!! :))

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  4. Sou uma leitora assídua e uma comentadora muito pouco habitual. Mas deste post não poderia deixar de dizer que a minha identificação com as tuas palavras manifesta-se a 100%. Também sinto uma enorme pressão, não só da sociedade, como principalmente dos que me são próximos. Por não pintar os brancos - e apesar dos meus 41 anos, eu já não tenho "brancos", eu tenho "castanhos", porque é esta última cor que ainda vai lembrando cada vez menos a cor que o meu cabelo um dia teve -, por vestir de forma simples e prática, por nunca ter ambicionado seguir carreira apesar de ter um curso superior. Sinto que as minhas escolhas são "fora", mas também sei que são elas que me definem e me satisfazem. Como tu, também tive a meu lado alguém que não seguia o "meu" padrão e o acompanhamento era difícil até se ter tornado insuportável. Hoje, passados uns anitos, sinto-me a viver uma nova vida: completamente assumida na minha maneira de ser e a viver, ainda que lentamente, aquilo que ambiciono em termos de vivência interior e exterior. Também nunca tive medo de envelhecer nem olhei com saudade para os anos que passaram. O maior momento, por mais penoso ou alegre que ele seja, é sempre o agora. Daí que, ao olhar para mim há um ano atrás, percebo o quanto a minha vida já evoluiu e até onde já consegui chegar. Não sozinha, porque há sempre pessoas especiais no nosso caminho, mas cheguei e continuarei a chegar. Porque a vida é um caminhar constante em direcção ao alvo, eu creio. Desculpa este longo desabafo, mas adorei a tuas palavras e é sempre bom reforçar que és compreendida. Beijos e que tudo corra bem para ti e para toda a tua casa.

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    1. Margarida, obrigada pelo comentário e espero que a presença se torne cada vez mais visível! : )

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