"De Pequenino Se Torce O Destino"

23 outubro 2014





À primeira vista parece que foi um dia cinzento, comum a tantos dos que se vivem por aqui. Começam radiosos, céu claro que vai passando de azul a cinza, até desabar numa cor que não é nenhuma, transparente como a chuva. 

À primeira vista pode parecer que foi um dia assim, mas não, foi daqueles que começam ao sol numa esplanada na Ribeira, o único da semana sem pressa de cumprir as horas marcadas pelos outros (no caso dele). Lê-se o jornal enquanto se come uma torrada, tiram-se fotografias durante um café, fala-se da vida, a que temos. 

Um dia destinado a atravessar pontes e se atravessam. E são tantas, as que nos ligam como afastam. 
Aos 25 anos aproximam-se as margens, o rio corre muito menos turbulento, já não existe o receio de perder o pé, ficar sem ar, ir ao fundo e não ter força para bater com o pé na lama, aquele impulso que basta para nos fazer vir à tona... e respirar e aguentar o próximo mergulho e ter força para bater mais uma vez o pé... e pronto é isso, ele cresceu e eu respiro melhor.
A ponte que se construiu durante anos não foi de fácil engenharia, mas parece que afinal o projecto não está mal amanhado!

O título do post vem do nome deste disco, da canção deste letrista, o músico que o ensinou a gostar das palavras além da música. A necessidade que tem dela e não se imaginar a viver uma vida privado dessa relação, levou-o esta semana a confessar que: "Se um dia ficasse surdo e não pudesse mais ouvir música, a coisa se resolveria com um tiro nos cornos". 
Recorremos a muitas ferramentas nesta obra de construção que é a educação dum filho, muitas delas damo-las nós, umas vezes assim, através das músicas que os fazemos ouvir. Outras vão buscá-las a outros sítios... a outras pessoas.

Quando um dia descobriu o Aleixo e "Este livro que vos deixo", carregou-o debaixo do braço para onde quer que fosse até o ter lido todo, tinha oito ou nove anos e foi assim que despertou para a poesia, pelas mãos de um poeta quase "analfabeto".
A irmã participou hoje numa manifestação de estudantes contra o Sistema de Educação. A falta injustificada (por faltar a uma aula) não poderia ter melhor justificação, por isso lá foi protestar e teve todo o nosso apoio. Nunca antes tinha participado numa luta que lhe dissesse tanto e partisse dela a iniciativa de se manifestar publicamente. 

A semente pode ter sido lançada nas primeiras vezes que a levei, espero eu. Desejava que germinasse num verbo destes, capazes de reivindicar, revolucionar, contestar, pensar...
De mim, não sei o que lhes deixarei, nem a um, nem a outro. Espero deixar-lhes o que tenha de melhor, já o resto... o menos bom, que o saibam distinguir, esse já seria um bom legado, tê-los ensinado a escolher.

2 comentários :

  1. Hello! I've just found your blog and I liked it from the first sight! A few years ago I visited Portugal and fell in love with it, so your posts are a very good opportunity for me to be in touch with the specific atmosphere of your beautiful country!:)

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  2. Gosto muito de te ler. :)

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