Banco de Materiais

16 outubro 2014


























Começam a ser raras as fachadas dos edifícios que conseguem escapar a esta clara delapidação de património, por parte dum vandalismo desenfreado. Há paredes que da noite para o dia acordam desfalcadas e algumas, quase totalmente despidas. 
O despertar de alguma população (até há pouco alheada) para a riqueza deste património tão português e o notório interesse dos turistas, vem criando uma espécie de mercado paralelo que não pára de crescer, não medindo os meios para atingir os fins.
É realmente de um fim que se trata, substituir azulejos antigos por réplicas (por muita qualidade que estes tenham) não é a mesma coisa e os originais estão mesmo a desaparecer. Para quem os procura, muitas vezes sem sequer questionar a sua origem, por ignorância (seria mais aceitável de atribuir esta razão) ou simplesmente por falta de respeito por um bem material público, talvez fosse justificável aplicar sanções, pois enquanto houver procura haverá sempre quem furte.

É uma paixão antiga, cultivada desde há muito e que começou com os primeiros azulejos que recebi duma tia coleccionadora. Para estudar um pouco mais alguns padrões específicos, visitei (finalmente) o Palacete dos Viscondes de Balsemão, onde se situa o Banco de Materiais. Aí são recolhidos e salvaguardados alguns dos materiais que de outra forma corriam o risco de perder-se em demolições ou derrocadas, podendo mais tarde ser gratuitamente disponibilizados aos munícipes que tenham necessidade de preencher algum espaço nas habitações próprias, desde que aí encontrem a mesma tipologia. 

Também se encontram telhas decorativas, placas toponímicas, escantilhões metálicos para decorar louça (como a de Massarelos), alguns artefactos de madeira, ferro e cantaria.
A maior parte da colecção exposta é mesmo de estuques, na sua maioria, produzidos aqui no Porto pela Oficina Ramos Meira, uma das mais importante e prestigiada da época, séc. XIX, XX.
Depois da visita, que apesar de tudo valeu a pena, fiquei com aquele gosto amargo de que ainda há tanto por fazer e sinceramente penso que seria tão mais inteligente apostar na prevenção. Muitas vezes acontece a quem pensa e concretiza estes projectos (que têm todo o mérito), dar-lhes uma certa continuidade. Não encontrei nenhuma dinâmica que traduzisse um real interesse em proteger o que ainda existe... ainda. 

Para tomar conta do que já anda à solta, um Banco poderá ser a solução... mas, e para guardar o que ainda resta? Não seria essa uma das funções destes projectos, o trabalho de encontrar soluções para este problema? 
Como cidadãos cabe-nos a responsabilidade de contribuir com o que pudermos e soubermos. A Rosa fez há umas semanas este cartaz, muitos o partilharam e bem. Há que ter consciência de que muita gente ainda não está alertada para esta situação que nos diz respeito a todos e tomar atitudes, por simples que sejam, é muito mais eficaz que soltar uns suspiros, cada vez que passamos por uma parede esburacada ou fazer uns comentários, lamentando o estado actual das coisas. 
Ainda acredito e todos os dias acredito ainda mais (tirando aqueles em que não acredito em nada!), que é possível mudar, mudar para melhor e que as mudanças se fazem pelas pequenas atitudes individuais.
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É possível comprar azulejos tendo a certeza da sua proveniência: 


Há sítos que importa conhecer e divulgar: 
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Participar colaborando é muito fácil: 
oito impressões a cores afixadas em locais estratégicos e distribuídas em lugares públicos, pelo preço dum cimbalino. Não custa nada!

1 comentário :

  1. Que maravilha! Concordo: embora a iniciativa seja mais do que válida, a prevenção é o que mai vale. Outro dia mesmo vi um senhor no Mercado de Portobelo que, na sua banca, tinha dois azulejos antigos à venda. Fiquei chateada e logo perdi o interesse pelo resto das mercadorias. É muito triste essa dilapidação.
    Abs,

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