Tempos invisíveis

17 setembro 2014


Nestes dias cinzentos de nevoeiro, sinto que a natureza está do meu lado, mas nem sempre estar do meu lado é ser bom para comigo. Se está na minha natureza ser sombria e taciturna, estes dias trazem-me uma dose suplementar de melancolia, que torna difícil a convivência comigo própria. Mais introspectiva do que nunca chego a sentir que fico invisível, tal e qual a paisagem. Depois o silêncio destes dias... abafa alguns dos sons, ao mesmo tempo que tudo clarifica, contrariamente ao que temos em redor desaparecido em instantes. Chego a pensar que passado o nevoeiro tudo estará diferente, um outro lugar, não sei bem como, mas um outro, não este que conheço e agora se tornou invisível. 
Quando fui embora este tempo ficou para trás, troquei-o por dias de sol que rapidamente alternam com chuveiros rápidos, o meu filho diz que o Porto tem um clima tropical e esquizofrénico. Talvez seja essa passagem rápida, esta inconstância entre o cinzento (que me agrada) e o azul (que me faz bem)  que tornam a cidade tão acolhedora, apesar do seu carácter difícil de caracterizar.
Acordar de madrugada, levar logo com o sol na cara, depois de durante a noite os relâmpagos nos forçarem a abrir os olhos, para confirmar se alguém tinha acendido a luz do quarto, é a melhor das mudanças que o dia nos pode oferecer. 
Viver ao nível dos telhados é controlar mais do que nunca o movimento das nuvens. É conhecê-las pelo nome, abrir as portadas e convidá-las a entrar.

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