Casa III

29 outubro 2013




Quando digo que a nossa casa é onde estão os desenhos deles é verdade. E se há coisas que se mudaram outras há que apenas saíram da gaveta ou do armário e ocupam agora um novo lugar, num espaço que pretende renovar-se e ter cada vez mais a nossa cara. E se isso implica colocar um naperon da bisavó, por baixo do vaso que colocou na estante, tudo bem, porque ter um filho com 24 anos que só agora se dispõe a preocupar-se com o ambiente que quer dar ao quarto só pode ser positivo.
Aos poucos a casa muda, ao nosso ritmo, um passo de cada vez, e às vezes um para a frente e três para trás, mas tem sido assim e é assim que vai ter de ser, nada de pressas, porque chegará o dia em que cansados de sofrer e estar revoltados e desistir de entender, estaremos prontos para nos rirmos, mais do que agora e sem sentimentos de culpa, porque esses não existindo, perseguem-nos que nem sombras e há que saber escapar-lhes, daí procurarmos o sol.
O desenho que a M fez há uns anos teve direito a ir para a parede, passei a ser sempre bem recebida quando chego a casa! Não há um dia que não sorria àquela personagem que me olha do fundo do corredor. Com as flores que me trouxeram da rua fizemos uma grinalda que colocamos no candeeiro da sala, fora do alcance do quarto membro da casa bastante dado à floricultura em geral.
Os dias não têm sido fáceis, como não são para a maioria de nós, trabalho, casa, dificuldades em gerir as finanças, escola, testes, aulas de violoncelo, procura de identidade, falta de tempo para estarmos juntos e vontade de estarmos sós. Perder tempo com zangas e arrumações, tratar das roupas e ouvi-la reivindicar que isto de ser dona de casa não tem interesse nenhum e eu a concordar rematando que ainda tem de fazer a cama de lavado e mudar a areia do gato.
 
Dois minutos no computador e passa tudo, tiramos uma fotografia juntas e vai para a cama com uma cara menos carregada, enquanto eu fico na luta contra a falta de vontade de dormir e cheia de ideias de coisas para fazer que não passam disso mesmo, porque o que precisava mesmo era de descansar.
Este crochet/tricot rosa que não sei, nem nunca saberei fazer, trouxe-o da feira pelo preço de um novelo. Há coisas que já saíram de casa, porque já não nos dizem nada, porque as temos repetidas, quando só uma é suficiente, porque descobrimos que amontoamos coisas que nunca chegamos a precisar e queremos esse espaço para deixar os objectos respirar e há outras que entram e continuarão a entrar, porque fazem parte duma época marcante para as mulheres, nem sempre pelas melhores razões, mas dum tempo em que havia tempo e os trabalhos com as mãos, tão delicados, com tanto saber transmitido de geração em geração e que nos merecem todo o nosso respeito, esses terão sempre lugar em minha casa. 
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Dias tristes que continuarão tristes mas perfeitos, mesmo não o sendo.
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4 comentários :

  1. Alexandra, eu sinto-me num lugar igual ao teu, neste momento. Felizmente estás consciente de tudo o que te rodeia e assim estarás sempre por cima, como mostra o teu rosto aqui. Tens filhos lindos e não há filhos lindos sem mães lindas :)

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    1. Virgínia, não será tudo tão Rosa chá como o naperon, mas há sem dúvida dias bons! : )

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  2. és tao bonita :)

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