Coisas que trouxe de lá

27 março 2012







A manta cobriu durante muitos anos as camas da casa da minha avó, ora a dela ora a nossa quando lá passávamos a noite. Mantas quentes e pesadas, impossíveis de esquecer, ainda guardo a sensação áspera na cara, tentando protegê-la com o lençol que estranhava por ser de linho. Contou-me o meu pai, porque eu não me lembro, que a panela azul era a dos rojões no pingue, usada vezes sem conta, remendada e tornada a usar e a verde, a da marmelada. 

Eu e a minha avó Ermelinda na eira a brincar com o milho, era baixinha a minha avó. Sacos de pão em tecidos de algodão e flanela, remendados com precisão, como o portão da eira que dava para o quintal, naqueles tempos tudo durava mais tempo. Foi uma manhã de limpezas, mais ou menos de primavera, muitos invernos de abandono depois, uma primavera em que feita respigadora andei atrás do que se conseguiu salvar. Coisas com histórias que na maior parte desconheço, outras ainda a tempo de descobrir, nesta manhã recuperei parte da vida dos meus avós e isso deixa-me um pouco melhor comigo e muito com eles.

3 comentários :

  1. Anónimo22:43

    Very touching. (Mia S)

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  2. Sabe tão bem, recuperar este objetos e com eles a memória dos antepassados.

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  3. Muito bonito, verdadeiros tesouros.
    Gosto muito de objetos com histórias...
    Sandra

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