MI MITRIKA

Os naperons

Em casa dos avós maternos não havia bibelot que se pousasse no móvel sem que antes tivesse sido colocado por baixo um destes paninhos de crochet. Quando nos servíamos da água, a maior parte das vezes, a caneca tinha um a protegê-la do pó. Os maples e sofás tinham uns conjuntos, para costas e braços, protegiam os móveis, não do pó, mas de nós próprios. Era frequente quando nos levantávamos termos de dar um jeitinho ao pano do braço do cadeirão e raras eram as vezes em que encostávamos a cabeça para não amarrotar o que ficava nas costas. O meu enxoval está recheado destes tesouros, aprecio-lhes o trabalho minucioso e as horas de dedicação, assisti a muitos deles a nascerem das mãos de uma tia avó, que além de só usar as agulhas mais finas de todas, era capaz de desmanchar um trabalho quase no fim se lhe descobrisse algum engano. Mas os tempos são outros e estes panos não voltarão a ter o papel de destaque que tiveram outrora, pelo menos na minha casa, onde nem há bibelots. Guardo-os com todo o respeito pelas histórias que contam, mais nada, acho que já é muito.