Coisas do dia-a-dia no Outono

14 outubro 2014



Nunca me consegui situar por inteiro num ambiente só, urbano ou rural, nunca me senti totalmente bem na ausência prolongada um do outro. Passei a infância dividida entre os dois e o que ganhei com essa vivência fez da mim grande parte do que sou hoje e muito provavelmente o que serei no futuro. 
Depois de tanto tempo na província (16 anos), também perto do rio e do mar, mas longe de tudo o resto que não se limite a paisagem... voltar a viver na cidade (a minha) foi a melhor decisão que tomei nos últimos tempos e se, por um lado, o que levou a esta mudança de vida, não tenha sido completamente pacífico, as vantagens têm sido tantas, que ainda não dei por mim a suspirar pela vida que deixei.
Passou um mês? Nem sei, mas não voltei lá. 
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Há uns anos descobri esta imagem, neste livro, na altura "classifiquei-a" de Árvore Crochet. Este Domingo, num passeio daqueles em que se conversa de tudo e de nada e se anda mais a pé do que durante uma semana inteira, mas se recupera toda (ou quase, porque basta subir a pé os três andares para chegar a casa e esta esvai-se) a energia para aguentar até o Domingo próximo, encontrei a Árvore objecto de estudo e admiração. passando despercebida pela maioria que passa, descoberta a seguir pela curiosidade de saber o que leva alguém a ficar tanto tempo parado, de cabeça no ar a olhar para uns troncos.
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O Outono traz muito de bonito, mas também muita da tristeza e melancolia que nos deita por terra que nem folhas. É assim que temos andado, mais calados, contemplativos, fartos de chuva e cheios de inveja do raio do gato, que passa o dia no ninho que fez ao lado da janela. Alternando entre sol e sombra, sim, ele pode dar-se a esses luxos de procurar na casa, os locais com a temperatura adequada a cada hora do dia. Gatos e humanos dão-se bem, desde que façamos tudo o que eles querem e o deixemos fazer o que lhe apetece. Com o nosso temos uma relação perfeita, ele manda e nós adoramos, às vezes.
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Da infância e dos livros, o mais lido e relido. Sempre as árvores, cada uma mais especial que a outra. 
Da idade adulta e das árvores, uma transfusão de sangue tipo Acer, Categoria Sapindaceae, que me fez resnascer.

7 comentários :

  1. Não é apenas a arvore objecto que nos passa despercebida.
    Este ano vou andar a mudar muitas vezes de ambiente, talvez mais do que é recomendado para se estabelecer um equilibrio (sempre necessario). Ainda bem que passei por aqui, os olhos são para estar abertos. Vous tentar estar mais atenta ao detalhe, por vezes os grandes e novos objectos não nos deixam ver as pequenas coisas.
    Sim, ainda bem que passei por aqui.

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    1. O que te fez passar cá foi o sermão... : )
      Todos nós nos esquecemos muitas vezes do que nos é essencial (a cada um de nós claro), é bom ter "o que", "quem" nos vá lembrando.
      Ainda bem que vamos passando uns pelos outros.

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  2. Nasci e cresci no centro da cidade, fugi dela por achar que estava na altura de procurar o que chamam "qualidade de vida". O mar está ali em baixo, mas em 15 anos de vida "pexita" a única coisa que cresceu a minha volta foi o betão. Até o lagarto Tobias com meio metro se casou e desapareceu. Cheguei a conclusão que o melhor mesmo é aguentar-me por aqui e assim que as miúdas passarem a fase de adolescentes "euzinhas com pêlo na venta", rumo ao Alentejo, compro um Monte, planto um jardim e umas hortaliças. ----- A brincar descobrimos coisas tão simples como o silêncio, uma árvore quase tombada pelo vento de Inverno, uma dúzia de conchas a viverem num canteiro vizinho... o pescador velho que este ano está mais velho ainda e a vizinha da frente que mudou de penteado. Só temos de levantar o queixo mais um bocadinho. Beijocas ****

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    1. Muitos de nós andamos à procura de mais do que realmente precisamos. Uns chegam a essa conclusão cedo, outros mais tarde e a maior parte nunca...
      : )

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  3. Adorei o post como sempre, e hoje aqui está o comentário, tens toda a razão nós escrevemos os posts e ninguém comenta e é pena... mas nós não desistimos porque quem passa por lá e são muitos, gostam quase sempre, embora não o digam...

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  4. Obrigada!
    Não é um assunto que me preocupe, nem pouco mais ou menos, mas de vez em quando reflicto sobre ele. : ) Apercebo-me do quanto pode ser importante sentir algum retorno do outro lado, já o foi para mim e já me demonstraram que sentiram o mesmo por minha causa.
    Pode ser mais fácil ou confortável não nos expormos, mantermos a nossa privacidade total, mas não estamos já suficientemente longe uns dos outros e muitas das vezes sós? Não sei.

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  5. O campo sempre foi local de "visita" ou férias para mim, mas sinto essa nostalgia arcadiana de tempos em tempos e, quando vejo a felicidade explícita da minha filha e da gata no contato com terra, verde e pedras, penso se não é uma opção a médio prazo. Mas daí penso que, de morar nos subúrbios, colada ao campo, quase enlouqueci e ainda estou a me recuperar (mais ou menos) das sequelas, respiro fundo. Não sei se a minha solidão aguenta, embora goste de uma certa sozinhez e dos silêncios; talvez, se a vida permitir, arrume um refúgio por lá, porque realmente sinto falta. Como disseste, às vezes andamos à procura de mais do que realmente precisamos.

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